Janeiro Branco alerta para a importância da saúde mental
Os desdobramentos da pandemia da covid-19 potencializaram os fatores de risco relacionados à saúde mental, tanto dos profissionais da saúde que estão na linha de frente quanto da população em geral, mais vulnerável por questões relacionadas ao isolamento e distanciamento social. Transtornos psiquiátricos, como ansiedade, depressão e sintomas de estresse pós-traumático são potencializados em tempos de pandemia.
Este mês de janeiro marca, no Brasil, uma série de ações voltadas às questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas e das instituições humanas. Trata-se do Janeiro Branco.
Para médicos-veterinários e zootecnistas, saúde mental deve ser tratada com seriedade. Segundo o médico-veterinário Rodrigo Rabelo, dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam os profissionais da Medicina Veterinária como os de maior risco de suicídio no Brasil (Datasus – portal de dados do SUS – de 1980 a 2007, indicam que, frente à população geral, a taxa de suicídio de médicos-veterinários é de 10,6 para um).
As principais causas que afetam a saúde mental desses profissionais, segundo Rabelo, são a síndrome de burnout e a fadiga por compaixão. A primeira compreende o esgotamento emocional crônico por sobrecarga de trabalho; já a fadiga por compaixão é a exaustão emocional de trabalho em prol do outro.
“Invariavelmente, a questão da eutanásia em animais e a frequência em lidar com a morte dos pacientes seja mais comum nesta especialidade do que em outras profissões. Infelizmente, é uma relação que afeta muitos profissionais de saúde e, embora seja uma questão problemática, os profissionais precisam estar preparados desde a formação na graduação para amenizar os impactos psíquicos”, explica Rabelo.
A médica psiquiatra Fernanda Benquerer Costa adiciona algumas ameaças à saúde mental de médicos-veterinários. “Alguns fatores de risco são: a existência de transtornos mentais, como a depressão, o uso de álcool e outras substâncias, o acesso a métodos potencialmente perigosos e algumas questões específicas da prática profissional, como a síndrome de burnout. Muitos profissionais vivenciam uma sobrecarga de trabalho em condições com pouco suporte organizacional”, avalia.
A psicóloga Joelma Ruiz, especialista em luto, avalia ainda que a Medicina Veterinária oferece uma experiência única nos cuidados aos animais, mas também exposição constante a situações de crise. Um exemplo seriam as histórias dramáticas narradas pelos clientes, sobre as quais não têm tempo para refletir como elas afetam e influenciam suas rotinas pessoais e profissionais.
“A equipe envolvida no cuidado lida com a pressão social de não estar autorizada a vivenciar as perdas de pacientes. O processo de luto do profissional de saúde ainda não é reconhecido e existem poucas oportunidades de expressão pública para facilitar a elaboração do luto, mas ele vivencia sentimentos de pesar diante do rompimento de um vínculo significativo com o paciente (expectativa de cura)”, avalia Ruiz.