Março Amarelo – Prevenção das doenças renais em cães e gatos
Em apoio à Campanha Março Amarelo e para esclarecer sobre a importância e tratamentos dos preventivos de doenças renais em cães e gatos, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) entrevistou os médicos- veterinários Marcus Campos Braun, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (CRMV-ES), e Roberto Luiz Lange, integrante Comissão Nacional de Estabelecimentos Veterinários (CNEV/CFMV).
Sintomas
Em cães e gatos a doença só aparece clinicamente quando 75% da função renal já está comprometida. Ela não escolhe idade, mas a partir dos 6 anos é quando ela ocorre na maioria dos casos. “O melhor jeito de evitar é prevenir, por meio de exames de sangue e de imagem, realizados por um profissional habilitado. Quanto mais cedo diagnosticada a doença, maiores serão a chances de controle a longo prazo, com aumento da longevidade do paciente”, alerta Lange.
O principal sintoma nos animais é o aumento da sede, mas pode haver vômitos, mau hálito, diminuição do apetite, apatia (paciente depressivo) e perda de peso, entre outros.
Uma vez instalada, a doença renal, na maioria dos casos, é progressiva e degenerativa. O tratamento é complexo, pois requer ajustes frequentes na terapia, em decorrência da causa e possíveis complicações de outras patologias.
A piora do quadro pode ser notada pelo comportamento e pelos exames do animal. “A internação costuma ser uma opção frequente e com resultados satisfatórios”, esclarece Braun. Ele explica que, nos casos em que o paciente não responde ao tratamento, é possível submetê-lo à hemodiálise. “A máquina filtra o sangue do animal. A indicação vai depender do quadro clínico, da etiologia da insuficiência renal (IR), das taxas renais, da resposta ao tratamento conservador e da disponibilidade financeira do tutor. Animais com peso abaixo de cinco quilos não podem fazer esse procedimento”, diz.
Apesar de a doença não ter cura, ela pode ser controlada e oferece ao portador uma vida quase normal. “Os tutores são peças fundamentais para o suporte e uma boa vida a esses pets”, assegura o presidente do CRMV-ES.
Lange compartilha a mesma opinião. Para ele, além do olho do dono do animal, é imprescindível também o acampamento de um médico-veterinário, a fim de evitar procedimentos mais complexos, como a hemodiálise. “O tutor deve ficar atento à hidratação contínua do animal, manejo da alimentação com rações específicas e ajustes das dosagens de medicamentos que têm excreção renal”, alerta.
Em casos mais complicados, há a possibilidade de transplante, mas a prática ainda não é rotineira na Medicina Veterinária de animais companhia. “Os resultados mundiais são satisfatórios, aumentando a taxa de sobrevida entre três e cinco anos, em gatos. Em cães, os estudos ainda devem ser continuados para ter êxito”, diz Lange.
O transplante é considerado um tratamento caro, com valor em torno de 20 mil dólares e taxa de sucesso de aproximadamente 40%. “É preciso ter um doador de tamanho e estrutura similar que seja compatível. Após a cirurgia, o paciente ainda irá tomar medicações contra rejeição e deve fazer acompanhamento periódico com médico-veterinário”, resume Braun.
Saiba mais
Os rins atuam filtrando os resíduos do sangue e mantendo o equilíbrio hídrico e mineral do corpo. Alterações em sua função caracterizam as doenças renais e, ao surgirem os sintomas da insuficiência renal (IR), geralmente a perda de função do rim é de 60 a 75%.
Com o aumento da expectativa de vida dos animais, o aumento da IR é uma realidade, mas dispondo de novos recursos na Medicina Veterinária, o diagnóstico pode ocorrer precocemente e garantir o aumento de qualidade e de tempo de vida.
Estatística
A IR é mais comum em cães idosos, mas também acomete animais jovens e gatos. Entre suas diversas causas estão o problema primário (animais idosos) ou secundário (intoxicação, envenenamento, uso prolongado de medicações, pacientes oncológicos, cardiopatas, hipertensos e diabéticos, entre outros).
A doença renal na sua forma crônica acomete de 0,5% a 1% dos cães idosos e de 1% a 3% dos gatos idosos. Dentre cães, as raças mais predispostas e mais comuns no nosso país, são o Cocker Spaniel Inglês, Bull Terrier, Shnauzer Miniatura, Rottweiler, Golden Retrievier, Lhasa Apso, Shih- Tzu, West Highland Terrier e Poodle. Já em gatos, as raças mais suscetíveis são Persa, Exótico e o Abissínio.
Alimentação recomendada
Atualmente, diversos fabricantes de alimentos para cães e gatos dispõem de alimentos específicos para esse fim. Esses alimentos têm a finalidade de ajudar no controle da doença com a diminuição dos níveis de proteína, fósforo e sal na dieta.
Há medicações seguras e que podem ser tomadas a longo prazo para o tratamento dos sintomas, bem como dietas nutracêuticas, com alimentos para o paciente renal e suplementos que auxiliam a melhora do seu quadro clínico.
Marcus Campos Braun
Médico-Veterinário formado pela Faculdade Pio X, em Aracaju (SE). Pós-graduado em clínica geral, clínica cirúrgica, anestesiologia, dermatologia, terapia intensiva e medicina intensiva em pequenos animais. Responsável técnico e proprietário de um Clínica Veterinária em Vitória (ES) e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Espírito Santo (2018-2021).
Roberto Luiz Lange
Graduou-se em Medicina Veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tem pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), em 2001. É ex-presidente da Anclivepa do Paraná e sócio-fundador da Associação Brasileira de Hospitais Veterinários (ABHV) e diretor-geral de um Hospital Veterinário, em Curitiba (PR). Integra a Comissão Nacional de Estabelecimentos Veterinários (CNEV/CFMV).