3 de novembro – Dia Mundial da Saúde Única: mundo globalizado evidencia importância do médico veterinário
A relação indissociável entre as saúdes animal, humana e ambiental é lembrada em todo o mundo no dia 3 de novembro, quando se comemora o Dia da Saúde Única. Nesta data, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) destaca como a Saúde Única ganha mais importância frente aos desafios do mundo atual, e salienta a importância do médico veterinário como protagonista nessa cadeia interdisciplinar.
A Saúde Única é uma abordagem que considera como humanos e animais interagem ecologicamente em um ambiente, onde qualquer alteração nestas relações provocará desequilíbrios e, consequentemente, a propagação de doenças. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) estima, por exemplo, que 60% de todos os patógenos que afetam os humanos são zoonoses, isto é, doenças infecto-contagiosas que podem ser transmitidas dos animais para os seres humanos.
O médico veterinário Fred Monteiro explica como o conceito de uma única saúde ganha importância conforme as recentes mudanças globais ameaçam o delicado equilíbrio dos três pilares que sustentam a saúde. “Com a globalização e a intensificação do comércio internacional, barreiras físicas deixaram de ser prevenção de doenças”, ressalta Monteiro, que é integrante da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV/CFMV).
“Neste cenário é que atuação do profissional médico veterinário tem papel fundamental no enfrentamento destas doenças, a evitar o adoecimento animal e, consequentemente humano”, aponta Monteiro. O médico veterinário está presente, por exemplo, no trabalho de vigilância de portos e aeroportos que procura impedir o transito de patógenos entre territórios.
Fred Monteiro aponta, ainda, outras questões que evidenciam a importância do médico veterinário na abordagem da Saúde Única, como o aumento da demanda mundial para produção de alimentos de origem animal e os efeitos das mudanças climáticas sobre a relação entre o ambiente, humanos e animais.
“O aumento da temperatura global elevou a área de dispersão de vetores, transmitindo doença para áreas onde antes não existia. De igual forma, El Niño, provoca seca em algumas regiões e cheia em outras, consequentemente aumentando o número de caso de diversos agravos. Médicos veterinários devem ficar atentos para o impacto dessas mudanças”, descreve Monteiro.
Os resultados dessas alterações na saúde podem ser observados, por exemplo, na representatividade das zoonoses entre as doenças que têm afetado a humanidade nos últimos anos: segundo a OIE, quase 75% de todas as doenças infecciosas emergentes que afetam os humanos nas últimas três décadas tiveram origem em animais.
O quadro é ainda mais grave quando se considera a resistência a antimicrobianos, considerada uma ameaça à saúde pública global pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade estima que até em 2050, a resistência a antimicrobianos matará mais de 10 milhões de pessoas, superando as mortes por câncer.
“Na Medicina Veterinária o uso de antibióticos não é apenas como uma prática terapêutica e profilática, mas também, como promotor de crescimento e metafilática. Assim, médicos veterinários são considerados atores principais no uso racional de antibióticos, uma vez que bactérias resistentes podem ser transmitidas a humanos por alimentos de origem animal”, ressalta Fred Monteiro.
Veja o vídeo da série CFMV Explica e conheça mais sobre a Saúde Única
Histórico
A relação entre doenças que afetam humanos e animais é estudada desde o século 19, mas foi apenas na década de 1960 que Calvin W. Schwabe, conhecido como “pai de epidemiologia veterinária”, criou o termo “medicina única”, que mais tarde daria origem ao conceito de Saúde Única. O tema foi abordado em seu livro “Veterinary Medicine and Human Health”, no qual Schwabe enfatiza a necessidade de colaboração entre as medicinas humana e veterinária para efetivamente curar, prevenir e controlar doenças que afetam tanto humanos como animais.
Em 2004, um simpósio dedicado a debater abordagens interdisciplinares de saúde em um mundo globalizado permitiu a criação de um documento conhecido como “Princípios de Manhattan”, que define 12 prioridades no combate às ameaças à saúde de humanos, animais e da vida selvagem, e formou as bases para o conceito de Saúde Única.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), Saúde Única é uma abordagem para a definição e implementação de programas, políticas, legislação e pesquisa em que múltiplos setores se comunicam e trabalham em conjunto para alcançar melhores resultados para a saúde pública. Destacam-se como particularmente relevantes, a segurança alimentar, o controle de zoonoses e combate à resistência a antimicrobianos.