Mulheres ocupam espaço crescente na Medicina Veterinária e na Zootecnia
O futuro da Medicina Veterinária parece ser feminino: com um crescimento acelerado da participação de mulheres no mercado de trabalho, em breve a área deve ter mais profissionais mulheres do que homens, invertendo uma proporção histórica. Atualmente, o país conta com 118 mil médicos veterinários em atividade, dos quais 58,4 mil, ou 49%, são mulheres. Até os anos 1980, elas representavam apenas 20% da categoria no país.
De acordo com o Sistema de Cadastro do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), as mulheres já são maioria em cinco estados brasileiros. A predominância feminina pode ser observada no Amazonas, com 52% das profissionais mulheres, no Distrito Federal (57%), no Espírito Santo (50,1%), em São Paulo (59%) e no Rio de Janeiro, onde a proporção de mulheres é mais notável – em território fluminense, 60% dos 10 mil médicos veterinários em atuação são mulheres.
Essa mudança de paradigma pode ser atribuída à forte representação feminina nas universidades, onde é perceptível a crescente quantidade de mulheres que desejam seguir carreira na Medicina Veterinária. “Observamos isso nitidamente, de uns tempos para cá. Quando eu me formei, em 1990, na Universidade Federal de Goiás (UFG), 80% da turma era composta por homens. Hoje, acredito que esse quadro esteja invertido”, avalia Georgiana Sávia Brito Alves, coordenadora do curso de Medicina Veterinária do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal).
A transformação descrita por Georgiana passou a afetar o mercado de trabalho em 2001, quando, pela primeira vez, mais mulheres do que homens se formaram nos cursos de Medicina Veterinária. Dos 3.280 novos profissionais registrados naquele ano, 1.754 eram mulheres, e apenas 1.526 eram homens.
A tendência se mantém desde então, com uma proporção cada vez maior de mulheres graduadas em Medicina Veterinária. No ano passado, 64% dos 8 mil médicos veterinários recém-formados eram mulheres. “Acredito que tenha sido um chamamento que partiu das próprias mulheres, talvez por conta da ampla gama de atuação da Medicina Veterinária. Elas podem trabalhar com pequenos animais, silvestres, produção, inspeção, tecnologia”, enumera Georgiana.
Embora não haja dados sobre as áreas de maior atuação das mulheres na Medicina Veterinária, representantes do ensino estimam que a grande maioria ingresse no curso em busca de uma carreira na clínica de pequenos animais. Mas há profissionais do sexo feminino em todas as áreas da Medicina Veterinária. “Quando frequentei a faculdade, há 40 anos, a minha ideia era trabalhar na clínica de pequenos animais. Pensávamos que poderia ter uma resistência, mas felizmente nunca tive esse problema no início da carreira”, recorda Adolorata Aparecida Carvalho, representante titular do CFMV no Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Depois de prestar concurso para a Secretaria de Agricultura e trabalhar na defesa sanitária animal, Adolorata passou a se dedicar à Medicina Veterinária Preventiva. “Sempre fui muito feliz em minhas atividades. A aceitação nessas áreas é a mesma, desde que as profissionais mostrem competência e não se fechem a novos conhecimentos”, afirma a médica veterinária, que também é coordenadora do Programa de Residência em Área Profissional de Saúde da Unesp de Jaboticabal.
Zootecnia
As mulheres também estão presentes na Zootecnia Dos quase 9 mil profissionais em atividade no país, 2,7 mil, ou 30%, são mulheres. O maior número de representantes do sexo feminino na profissão está no estado de São Paulo, com 571 profissionais, enquanto o Rio Grande do Norte tem a proporção mais equilibrada de gênero no país, com 43% de mulheres entre seus 126 zootecnistas.
Embora na Zootecnia a presença feminina cresça num ritmo mais lento, é constante o aumento do número de mulheres na profissão. Se em 2001 elas representavam apenas 26% dos novos profissionais, em 2017 elas já eram 44% dos zootecnistas recém-formados no país. “Percebemos em muitos cursos de Zootecnia a grande participação da mulher, seu desempenho e dedicação à profissão”, avalia Safira Valença Bispo, integrante da Comissão Nacional de Educação em Zootecnia do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNEZ/CFMV).
Safira Valença Bispo, integrante da CNEZ/CFMV. Foto: arquivo pessoal
Na opinião da zootecnista, não há resistência no mercado de trabalho para as mulheres, e há, ainda, um grande espaço a ser ocupado pelas profissionais que desejam se dedicar à produção animal. “A cada dia que passa esse tabu é quebrado na área de produção e também para os cargos de chefia”, avalia Safira. “Meu conselho é que todas que queiram exercer a Zootecnia se dediquem aos estudos, tenham postura profissional e sejam proativas. Acho que a junção destes itens é fundamental para o sucesso no mercado de trabalho”, orienta.